O que me impede
de soletrar as palavras à tua boca
enquanto imersa nos teus sonhos
te sentes embalar
e mais te embalas na madrugada fora
que para mim é mais um dia
trazendo com ele o mar, o céu e a terra.
Olhamos para cima e vemos os astros
um a um em cada lugar
e à medida que as estrelas se perdem
em imemoriais desencontros
somos apenas mais um
nesta terra.
Olhando o céu azul
que se estende no horizonte
e ao olhar em frente
só o mar, só o mar
que se recolhe em cada passo da maré
E somos fogo,
ardemos no nosso desencontro
e apenas suscitamos o destino
que implacável nos junta novamente
E somos um para o outro
miragem de ver o mundo
com os nossos olhos
sendo meus os teus
e teus os meus
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Que me importa
Poesia: Que me importa
Que me importa
que em teus lábios
se pronunciem pequenas rimas de amor
quando o teu coração é negro
quando a tua alma
exorta o solsticio
que quebra o mar
na sua agonia
que fende sobre a rocha
quebrando-a na sua companhia
se as tuas palavras já não são
a secreta ilusão do que nos unia
Agora, que penso assim
que a morte te levou de mim
ja nao penso como eram tardes as letras
como eram imersas e secretas
quando tudo não passava de um embuste
E assim, perdida de mim
para te encontrares fendida num qualquer
quarto obscuro
com outro homem
peço que te libertes
do nosso pranto imaculado
que te cinjas em tua dor
de um coração combalido
e que quando um dia te recordes de mim
penses que o fim foi próximo do nosso fim.
Que me importa
que em teus lábios
se pronunciem pequenas rimas de amor
quando o teu coração é negro
quando a tua alma
exorta o solsticio
que quebra o mar
na sua agonia
que fende sobre a rocha
quebrando-a na sua companhia
se as tuas palavras já não são
a secreta ilusão do que nos unia
Agora, que penso assim
que a morte te levou de mim
ja nao penso como eram tardes as letras
como eram imersas e secretas
quando tudo não passava de um embuste
E assim, perdida de mim
para te encontrares fendida num qualquer
quarto obscuro
com outro homem
peço que te libertes
do nosso pranto imaculado
que te cinjas em tua dor
de um coração combalido
e que quando um dia te recordes de mim
penses que o fim foi próximo do nosso fim.
Murmurio de nós dois
Poema: Murmúrio de nós dois
O murmúrio de teus labios
contam-me singelas confidências
daqueles que os anjos escutam
no silêncio da noite
E por mais que a terra seja redonda
por mais que os astros
se incidam no mar exausto
é a tua voz que escuto ao longe
Chamando por mim
e pelo meu amor
que vem por fim
nos fios dourados na madrugada
Como quem chama por mim
como quem chama por nós
na chama imensa de nós dois
imersos na nossa saudade
Na saudade que se faz vida
que nos abraça
na terra orvalhada
e no resplendor das estrelas no céu
e imerjo
no suave múrmurio de nós dois
O murmúrio de teus labios
contam-me singelas confidências
daqueles que os anjos escutam
no silêncio da noite
E por mais que a terra seja redonda
por mais que os astros
se incidam no mar exausto
é a tua voz que escuto ao longe
Chamando por mim
e pelo meu amor
que vem por fim
nos fios dourados na madrugada
Como quem chama por mim
como quem chama por nós
na chama imensa de nós dois
imersos na nossa saudade
Na saudade que se faz vida
que nos abraça
na terra orvalhada
e no resplendor das estrelas no céu
e imerjo
no suave múrmurio de nós dois
Os olhos azuis de Melissa
Melissa era uma pequena
menina que estava a morrer com leucemia. Uma leucemia do tipo aguda que lhe
minava todas as células do corpo sem que ela pudesse fazer nada para o evitar.
Os seus olhos de um azul claro lúcido brilhavam como duas candeias de amor, e
as duas covinhas que fazia quando sorria pareciam fazer esquecer o seu rosto
magro que se apagava perante o sofrimento. No hospital onde estava internada
como doente terminal ficava situado junto a um pequeno descampado semelhante a
uma planície verde, onde ela imaginava brincadeiras com os outros meninos, e o
rosto de compaixão dos médicos não faziam apagar o desfecho mortal que a doença
teria na sua vida. As paredes do quarto eram de um azul celeste, e à sua volta
apenas umas pequenas túlipas decoravam aquele espaço, cuja janela deixava
entrar de mansinho os pequenos raios de sol. Ela continuava entubada a uma máquina
mas os seus sentidos estavam activos, e ela conseguia ver tudo o que se passava
em seu redor . Não posso precisar quando lhe foi diagnosticada a doença. Talvez
num dia normal como todos os outros, mas apesar disso, o frio que se evadia no
seu corpo alertava-a para a morte anunciada. Um futuro tão triste, que os seus
pais combalidos choravam lágrimas de raiva pela sua condição. Choravam de
mansinho sem ela ver, mas quando estavam com ela, as palavras eram de
conformismo e de uma saudade imensa.
- Melissa, o pai está
aqui contigo esta noite. Não deixa a menina sozinha. Dizia-lhe ao ouvido
enquanto ela medicada, sentia-se planar num céu azul tal como a cor dos seus
olhos.
- Sim pai cante-me uma
canção. Pedia-lhe a menina.
E ele que mal conseguia
soletrar um som, tal era a dor que sentia no seu peito cantava-lhe baixinho uma
história de embalar.
- Era uma vez uma menina…
Cantava o pai – Que tinha uns olhos da cor do mar, e que se sentia viajar por
entre as estrelas que a acarinhavam. Uma a uma brilhando na noite escura… uma a
uma brilhando no céu estrelado, enquanto a lua lhe sorria e dizia que tudo iria
ficar bem.
A criança adormecia à
medida que o pai cantava a história e sentia-se embalar e à medida que
adormecia sonhava o mesmo sonho que lhe surgia em mente quando estava a
meditar.
- Era uma vez uma menina…
As noites passadas em
branco por parte dos pais eram de uma terna solidão. Pensando que a sua filha
ficaria sozinha um dia longe deles e que iria ser devorada pela terra. Por
isso, os esforços para passarem com ela aqueles curtos momentos da sua curta
vida, eram feitos com afecto e carinho.
Os dias iam passando. Lá
fora o vento uivante sentia-se por entre a janela do quarto, e quando mais
persistente acordava a menina, que dormindo profundamente sonhava o mesmo sonho
em que estava perante uma escada, que a levaria até ao céu. Uma escada em
caracol que ela subia passo a passo devagar, sendo recebida pela aura de um
espírito que lhe dizia que em breve tudo iria ficar bem, e para ela se alegrar,
que no céu azul haveria muitos meninos para brincar com ela. Então ela sorria
para o espírito, e às portas do céu, admirava o azul claro do céu imenso que soletrava
palavras de descanso na sua face redonda, no qual o seu cabelo curto agora
desmanchado perante a doença lhe voltava a crescer, com laivos dourados que lhe
cobriam o rosto tal como era quando nada havia acontecido. Quis subir mais as
escadas, para ir ter com os outros meninos, mas o espírito dizia-lhe que não
porque ainda era cedo para ela ficar ali com eles para sempre. Ainda teria de
se despedir dos seus pais, e dar-lhes uma palavra de consolo, para que eles
compreendessem que ela iria ficar bem. Que tudo iria ficar bem. Mas talvez não
entendessem o porque de uma coisa daqueles tão dramática ter ocorrido
precisamente com o seu pequeno anjo de asas doiradas. Ou não quisessem outra
interpretação a não ser a da fatalidade injusta da morte.
Deus leva cedo aqueles
que mais ama.
Um dia que era como um
dia qualquer, a morte veio à sua procura. Manifestava-se na forma de uma
corrente de ar que soprava mais insidiosa no quarto. Melissa abriu os seus
pequeninos olhos, e pode ver a sua face. Da morte, que perante ela lhe dizia
que a tinha vindo buscar.
- Quem és tu? Perguntou,
incidindo os seus olhos da cor azul como o céu límpido e sereno.
- Eu sou a morte.
Disse-lhe a mensageira.
- És a morte? Sempre te
imaginei de tons negros, com um busto de caveira, escondida num manto preto com
uma foice na mão. Disse a menina alegrando-se por a morte não ser nada assim.
Pois ela era um anjo, que tinha vindo buscar a criança e com ela leva-la para o
céu.
- Hoje podes subir as
restantes escadas do teu sonho! Exclamou a morte olhando para ela, iluminando-a
com a sua aura de dourado que lhe alegrou o coração.
- E posso brincar com os
outros meninos? Perguntou a criança.
- Sim podes! Hoje podes.
Por isso te venho buscar. Para brincares com os outros meninos.
O rosto da criança alegrou-se
e os seus pequeninos olhos piscaram de alegria. Podia finalmente subir as
restantes escadas que a separavam das crianças e com elas brincar na longa
planície verde que se estendia à sua volta.
A morte soprou-lhe num
suspiro raro e ela sentiu-se levitar. O seu corpo deixou-se ficar na cama.
Entretanto o seu pai entra no quarto e pergunta-lhe com quem estava a falar.
- Com a morte! Exclama a
pequena menina. A morte que me veio buscar.
O seu pai olha em volta
no quarto mas não vê ninguém. Nem morte nem qualquer estranha criatura que lá
pudesse estar, e pensa que aquilo seria um delírio por parte da criança que
estaria sob o efeito calmante dos medicamentos. Então senta-se perto dela e
pega-lhe na mão. Uma mão magra e pequenina, que lhe insidia em ossos frios, que
o fez esfregá-la na sua para a aquecer. Mãos frias coração quente. Como seria o
coração daquela menina, que se alegrava agora pensando que num futuro não muito
distante daquele, o seu sofrimento iria cessar e podia brincar com as outras
crianças que moravam no céu.
O pai começa então a
cantar novamente a música que a embalava em sonhos e à medida que a cantava, a
criança ia adormecendo profundamente. Ela sonhava. Sonhava que estava a subir
as escadas, talvez pela última vez, enquanto o pai naquele quarto de hospital
via a sua face combalida face à dor a ser acarinhada por uma última vez.
- Vem Melissa, os meninos
estão à tua espera.
A luz que o espírito
encadeava não lhe magoava os olhos. Era de uma aura cordial e singela, e o
silêncio que imperava naquele sítio fazia-lhe escutar a música de Deus.
Então subiu mais uns
degraus, e chegando ao cimo viu o anjo da morte que a tinha vindo buscar aquele
quarto de hospital. Ele olhou para ela e pegando-a com a mão levou a menina com
ela para junto dos outros meninos. Naquela planície verde, sob o céu azul
pálido as crianças brincavam correndo com os seus papagaios de papel, e
gritavam para a menina vir brincar com eles.
No quarto de hospital o
pai escutou a sua última expiração, sendo cessado de respirar e partindo para
onde Deus a mais queria acolher.
- Marta! Gritou o pai. –
A nossa menina marta. – Gritava assustado com medo de a ver perder naquele
momento.
Mas a criança já não
respirava e tinha partido para sempre de junto deles. Apenas o seu corpo frágil
se assomava naquele quarto, enquanto o seu espírito tinha ido para outro lugar.
Para um lugar onde o céu azul claro se migrava em tons de violeta para acolher
aquele que Deus mais ama.
Ela tinha partido para
sempre.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Terna Despedida
Poema: Terna despedida
Nos contornos de teu rosto
posso ver a Iluminação
como uma fagulha acessa
que me arde o coração
E quanto mais ela brilha
mais a tua aura é cega
e o véu que se desprende
numa maravilha sincera
De quereres estar aqui
comigo ao meu lado
enquanto eu voo
sou teu anjo alado
E por mais que a vida nos junte
neste eterna solidão
a fatídica despedida
é o pranto, a comunhão
Dos olhos que choram
o que há-de chorar
como se a morte
me viesse buscar
Nos contornos de teu rosto
posso ver a Iluminação
como uma fagulha acessa
que me arde o coração
E quanto mais ela brilha
mais a tua aura é cega
e o véu que se desprende
numa maravilha sincera
De quereres estar aqui
comigo ao meu lado
enquanto eu voo
sou teu anjo alado
E por mais que a vida nos junte
neste eterna solidão
a fatídica despedida
é o pranto, a comunhão
Dos olhos que choram
o que há-de chorar
como se a morte
me viesse buscar
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Mar
Vejo nos teus olhos
a imensidão do mar
cujas ondas fluem
na sua suave brisa
e quanto mais fluem
mas se criam as marés
que nos toca a alma
E dessa imensidão
olhando o oceano
toco-te ao de leve
no teu coração
cujos teus olhos
são o imenso mundo
em lágrimas
que sinto num segundo
a imensidão do mar
cujas ondas fluem
na sua suave brisa
e quanto mais fluem
mas se criam as marés
que nos toca a alma
E dessa imensidão
olhando o oceano
toco-te ao de leve
no teu coração
cujos teus olhos
são o imenso mundo
em lágrimas
que sinto num segundo
Somos poesia
Na noite fria
Em que o ar se invade
Somos poesia
De olhar a lua
E nessa alegria
Quando nossos corpos
Se juntam em dança
Somos poesia
E mais
Quanto mais
As ondas se tocam
Somos poesia
Alegrando
As nossas noites
Somos o frio
Do vento liberto
Somos poesia
Do tempo encoberto
Que nos leva
Para o nosso deserto
Somos poesia
Na terra orvalhada
Que se desprende das mãos
Em nossa caminhada
Somos poesia...
Em que o ar se invade
Somos poesia
De olhar a lua
E nessa alegria
Quando nossos corpos
Se juntam em dança
Somos poesia
E mais
Quanto mais
As ondas se tocam
Somos poesia
Alegrando
As nossas noites
Somos o frio
Do vento liberto
Somos poesia
Do tempo encoberto
Que nos leva
Para o nosso deserto
Somos poesia
Na terra orvalhada
Que se desprende das mãos
Em nossa caminhada
Somos poesia...
domingo, 23 de fevereiro de 2014
Inicio
Os ramos são como corpos ausentes de vida,
que se projectam no céu.
Se são assim por incunbência de Deus,
se ele soletra em cada folha o ar que respiramos,
quem somo nós para duvidar?
Em cada expiração morremos, para depois voltar a viver.
É nesse ciclo que se perpetua a solidão do ser,
que se vê constrangido a viver,
em mais uma inspiração.
Sim Estou aqui...
que se projectam no céu.
Se são assim por incunbência de Deus,
se ele soletra em cada folha o ar que respiramos,
quem somo nós para duvidar?
Em cada expiração morremos, para depois voltar a viver.
É nesse ciclo que se perpetua a solidão do ser,
que se vê constrangido a viver,
em mais uma inspiração.
Sim Estou aqui...
sábado, 22 de fevereiro de 2014
Meu amor
Meu amor
tu que surges na noite
respondendo aos meus anseios
que te tornas anjo
e perdoas meus desvaneios
vêm em meu auxílio
e toma conta de mim
liberta-me da solidão
que parece não ter fim
Quando as trevas se levantam
e dia surge na madrugada
vens tu com o teu amor
trazendo a esperança
Por isso voa baixinho
e vem para meus braços
quero-te dizer
o quanto sinto o teu abraço
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Sempre que regresso ao teu amor
Poema: Sempre que regresso ao teu amor
Dedicado ao Manuel António Pina
Na ânsia da saudade
sempre que regresso ao teu amor
existe um pequeno fio, liberdade
que arde em imenso calor
e sempre que regresso
novamente ao teu amor
existe um verbo perdido
que declamo com fervor
e novamente regressando
ao teu amor
faço dele a voz
de um momento estar a sós
e sempre que regresso
leve como o vento
o pranto que eu sinto
sente-se para lá do firmamento
E cruzando o teu olhar
Cândido e soturno
sempre que regresso
iluminasse o meu mundo
Dedicado ao Manuel António Pina
Na ânsia da saudade
sempre que regresso ao teu amor
existe um pequeno fio, liberdade
que arde em imenso calor
e sempre que regresso
novamente ao teu amor
existe um verbo perdido
que declamo com fervor
e novamente regressando
ao teu amor
faço dele a voz
de um momento estar a sós
e sempre que regresso
leve como o vento
o pranto que eu sinto
sente-se para lá do firmamento
E cruzando o teu olhar
Cândido e soturno
sempre que regresso
iluminasse o meu mundo
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Anjo
Conseguia ouvir as palavras do anjo
ele que planava sobre o céu ardente
e quando por fim tombou
era mais um homem
que crucificado na terra se entregava a si de delírio
acordando num grito de susto
na madrugada do seu olhar
imerso na sua dor
a mesma dor de caminhar
e quando se fez luz
ele surgiu no céu planando
e todo o negro se exortou
da sua cordialidade
para sempre suscitou
a sua saudade
e era apenas um homem
cujas asas o faziam convalescer
para lá do ser homem
e que o faziam alcançar a liberdade
de espírito sobre a matéria
condensando a sua alma num só grito
de pranto
e quando ela se fez assim
e a aurora surgiu por fim
ele partiu mergulhando
no azul do céu
que para sempre o acolheu
que para sempre o fez libertar
de toda a sua ânsia
e se me perguntarem
para onde migrou
direi pelo azul do mar que se reflecte no céu
para onde partiu
e de onde se fez nada
ele que planava sobre o céu ardente
e quando por fim tombou
era mais um homem
que crucificado na terra se entregava a si de delírio
acordando num grito de susto
na madrugada do seu olhar
imerso na sua dor
a mesma dor de caminhar
e quando se fez luz
ele surgiu no céu planando
e todo o negro se exortou
da sua cordialidade
para sempre suscitou
a sua saudade
e era apenas um homem
cujas asas o faziam convalescer
para lá do ser homem
e que o faziam alcançar a liberdade
de espírito sobre a matéria
condensando a sua alma num só grito
de pranto
e quando ela se fez assim
e a aurora surgiu por fim
ele partiu mergulhando
no azul do céu
que para sempre o acolheu
que para sempre o fez libertar
de toda a sua ânsia
e se me perguntarem
para onde migrou
direi pelo azul do mar que se reflecte no céu
para onde partiu
e de onde se fez nada
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Servidões de Herberto Helder
«como se atira o dardo com o corpo todo,
com a eternidade em não mais que nada,
e depois a abolição do tempo,
e então o que respira no corpo passa à vara,
e o que respira na vara passa depois à ponta,
tu não, tu já respiraste tudo pelo dardo fora,
mudo e cego e surdo,
e és um só ponto do alvo onde respiras todo,
e tudo respira nesse ponto,
em ti, veia da terra, oh
sangue sensível»
E quando desse dardo
toma à terra
inusitado e caótico
sentes a vibração do tempo
que passa em teu olhar perdido
que se julga constrangido
por esse pesar
e és surdo cego e mudo
para aferires da sua razoabilidade
que apenas te toca
em sensibilidade
e tudo é sangue
é terra em vão
tudo perdido tudo em sacridão
e o poema perdido
que te faz suspirar
é apenas um castigo
apenas pesar.
toma à terra
inusitado e caótico
sentes a vibração do tempo
que passa em teu olhar perdido
que se julga constrangido
por esse pesar
e és surdo cego e mudo
para aferires da sua razoabilidade
que apenas te toca
em sensibilidade
e tudo é sangue
é terra em vão
tudo perdido tudo em sacridão
e o poema perdido
que te faz suspirar
é apenas um castigo
apenas pesar.
Corpos ausentes
Somos corpos ausentes de ternura
embalados no sentido do teu ser
embalados no sentido do teu ser
do qual a vida passa
e me sinto morrer
e morro em cada instante
penumbra de um céu alado
que nos olha combalido
e nos exalta perturbado
E quando o teu abraço
me cinge e desmaia
somos a luz das estrelas
o instante que passa
E quando o teu abraço
me cinge e desmaia
somos a luz das estrelas
o instante que passa
Luxuriante e enegrecido
tal como um castigo
de em nossos braços
não mais perdurar
que se afastam
para no nevoeiro se perderem
em mil focos de pesar
tal como um castigo
de em nossos braços
não mais perdurar
que se afastam
para no nevoeiro se perderem
em mil focos de pesar
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Poema dedicado a Pablo Neruda
Se me esqueceres
de quantas saudades tuas serão tormentos
de quantas madrugadas e firmamentos
e tu, aí
acenando com tua mão
marejada na água salgada de teu coração
Ao mar que te olho ausente
premente dessa tua saudade
fazendo-me esquecido da solidão
de um gesto perdido
e tu,
com teus braços me abraçando
com as lágrimas de teus olhos
derramando a ausência de mim,
Luz que percorre o firmamento mirrado
da ausência do negro inusitado
que me dá o verso e prosa.
Para ti,
que guardas sentindo meus gestos
e abrindo os mais de mil versos,
que por ti escrevo
na madrugada do desejo.
de quantas saudades tuas serão tormentos
de quantas madrugadas e firmamentos
e tu, aí
acenando com tua mão
marejada na água salgada de teu coração
Ao mar que te olho ausente
premente dessa tua saudade
fazendo-me esquecido da solidão
de um gesto perdido
e tu,
com teus braços me abraçando
com as lágrimas de teus olhos
derramando a ausência de mim,
Luz que percorre o firmamento mirrado
da ausência do negro inusitado
que me dá o verso e prosa.
Para ti,
que guardas sentindo meus gestos
e abrindo os mais de mil versos,
que por ti escrevo
na madrugada do desejo.
Fundo do mar
Observo as marés
mirradas de luz
e do fundo do mar
sem sobreaviso
calculo todos os peixes
que lá se encontram
na sua imensidão.
São pequenos
médios e grandes,
e percorrem essa escuridão
de água imersa em si
misturando-se com as algas
que lá existem.
Quantos deles
procuram a sua alma
imersos nos seus
pensamentos.
Se é que existam
pensamentos
no profundo dos oceanos
para o qual imergem
os meus olhos.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Madrugada
Acordo em cada madrugada
e são teus olhos que vejo a primeira vez
como duas pétalas douradas
perto de um rio se consomem
em labaredas de amor.
E em cada gesto teu
é o orvalho de uma noite húmida
que me faz te abraçar
para que nos meus braços
te sintas balançar.
Terra húmida
sonho combalido
que soa como um sino
na alegria rasgada de um gesto.
Continuação do Principe do Nada
Acordei
de manha com os raios de sol a surgirem pela vidraça da janela que se
encontrava ao lado da minha cama. Levantei-me da cama meio estremunhado e
sentei-me nela para acordar daquela letargia matutina. Olhando lá para fora
pelo meio dos estores conseguia ver os carros a afastarem-se e as folhas das
árvores a balançarem com a leve brisa.
Por
momentos, ao esfregar os olhos, reparei que a cama em frente à minha estava
vazia.
Talvez
Pessoa já estivesse acordado, mas naquele momento não havia lá nenhuma
escrivaninha nem indício de alguém que pudesse ter ocupado aquela cama na noite
passada. Por outro lado, não vi sombra de folhas brancas que com o vento fresco
da manha a soprar pela frestas da janela pudessem esvoaçar no caderno escrito
junto à cama.
Por
isso levantei-me devagar, reparando na tonalidade das paredes, no formato dos
móveis (um armário enorme encostado à parede e as duas camas em frente uma da
outra), na atmosfera envolvente e no pátio que circundava o edifício nesse
breve jardim.
Dirigi-me
à casa de banho para tomar banho e enquanto atravessava o corredor e os
diferentes dormitórios, era recebido com cumprimentos de bom dia pelos
restantes internados que ali moravam temporariamente como eu. Reparei que
alguns pareciam de facto perturbados, enquanto outros nada fazia prever porque
estariam ali, o que me levantava a questão de saúde mental, e o facto de muitas
vezes estar escondida na aparente sociedade, em que cada um vive imerso na sua
aparente normalidade.
A
casa de banho era grande. Tinha lá estado na noite passada, mas agora
compreendia melhor a sua dimensão. Era disponibilizada roupa lavada num
carrinho à sua saída, e havia uma série de chuveiros como num comum balneário.
A roupa por sua vez era mudada todos os dias e só aceitavam roupa da
instituição psiquiátrica. Havia também restrições ao uso de objectos cortantes,
com a justificação clara de poderem haver acidentes propositados (ou não) por
parte dos internados.
Mergulhando
o rosto na bacia de água quente, levantei o tronco limpando-me a uma toalha e
perguntei por Pessoa.
-
Alguêm aqui conhece o Pessoa?
E
sem resposta retomei.
-
Sim, Pessoa, um sujeito magro de rosto alongado de fato escuro e chapéu.
E
então responderam.
-
Pessoa? Não estou a ver rapaz. És novo aqui? Como te chamas?
E
outro.
-
Pessoa, não conheço nenhum Pessoa! Como te chamas rapaz?
Sem
obter qualquer resposta conclusiva apresentei-me:
-
Sou o Manuel. Disse. – Entrei ontem à noite e estou num quarto com um sujeito
alto de nome Pessoa. Não o conhecem? Voltei a perguntar.
-
Se conhecesse eu diria. Responderam-me. – Mas não me lembro de nenhum Pessoa
com essa descrição, mas se eu vir por aí, eu digo-te. Completou um dos
internados enquanto fazia a barba mesmo ao meu lado.
-
Rapaz, o único Pessoa desse quarto partiu à muito, muito tempo. Escutei outro
dos internados dizer.
E
então voltei à carga.
-
Partiu á muito tempo? Como assim?
-
O que queria dizer é que esteve cá internado um tal de Fernando Pessoa, mas foi
á muito tempo atrás. Concluiu.
Mergulhei
novamente a face na bacia de água quente e fiquei a olhar o meu reflexo no
espelho. A luz psicadélica da noite anterior já não ofuscava com tanta força
porque a casa de banho era inundada por uma luz exterior forte que cortava toda
essa tonalidade. Pensei que a situação de ontem à noite pudesse ser outro dos
meus devaneios, como sucedia no caso de Almada e de Sá. Sendo assim, ninguém
senão eu mesmo conheceria Pessoa, aquela estranha personagem que escrevia sem
parar numa escrivaninha junto à minha cama.
Após
tomar banho fui chamado para consulta com o psiquiatra.
-
Sabe porque esta aqui?
-
Sei sim doutor. Mas não sou eu que ouço vozes, elas é que falam comigo. E
completando perguntei.
-
Ontem à noite estava uma pessoa no meu quarto a escrever numa escrivaninha.
Sabe de quem se trata? Já perguntei a outros pacientes e ninguém o conhece. Por
outro lado, o enfermeiro disse que não estava lá ninguém. Mas eu sinto doutor.
Sinto nas palavras escritas pelo vento, naquele caderno amarrotado junto a essa
cama.
O
psiquiatra lança um profundo olhar sobre mim e diz que não está lá ninguém
naquele quarto. Que eu estou lá sozinho.
-
Você está doente rapaz e precisa de ajuda. Concluiu pensando que o meu estado
piorava de dia para dia.
O
psiquiatra era uma pessoa calma. O seu rosto sereno demonstrava experiência no
tratamento de casos semelhantes, em que havia alucinações por parte dos
pacientes. A sua face longa e esguia de barba comprida e expressão Freudiana,
adivinhava alguém que gostava de estudar a mente das outras pessoas, embora por
vezes isso fosse complicado, pois cada cabeça sua sentença. E o jeito do seu
olhar perspicaz também notava um certo aspecto Jungiano.
Olhando
para ele, incidindo os meus olhos persuasivos nos seus respondi:
-
Mas eu ia jurar que estava lá uma pessoa.
Porem,
o que eu tentava era arranjar justificações para o delírio. Uma vez que se
tornavam quase persistentes. Pois a doença começava a tomar conta da minha
mente e não se avizinhava um desfecho feliz para este caso, (embora mais tarde
soubesse de fonte fidedigna que tinha havido um paciente chamado Fernando
Pessoa que esteve internado naquela instituição psiquiátrica). O eterno poeta
como Almada lhe tinha chamado, na noite passada, quando me disse que iria ter a
companhia do poeta. E ele tinha razão.
-
Vou-lhe receitar uns comprimidos para reduzir essas alucinações. Disse o
doutor, escrevendo no papel a prescrição, e enquanto ele estava absorto na
receita médica, Almada surgiu ao meu lado, sentando-se na cadeira vazia ao lado
da minha.
-
Poeta dos poetas Bernardo. Disse. – Pessoa era o poeta dos poetas. Todos eles
com vidas miseráveis, sem nunca haverem reconhecido o seu génio. Perdidos,
mendigando nas ruas. Quantos penetraram no profundo da alma para se fazerem
voz. Nenhum como Pessoa, jamais. Quantos não codificaram a sua obra para não serem
censurados. Pois eu vivi isso tudo caro Bernardo. E pobre Sá, cujo génio era
maior do que o tamanho do mundo, e cujo suicídio foi para nós um relampejo de
dor. Completou, e de facto, Mário Sá Carneiro tinha sido um dos grandes vultos
da poesia do século XX e morrera tão jovem e com tanto talento.
-
A geração Orpheu caro Bernardo. E de repente confundi-me com Bernardo Soares,
um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Quantas individualidades poderiam
existir em cada um de nós. Quantos heterónimos existiriam para além das
máscaras. Mesmo que a máscara fosse apenas transparência ilusória do mundo. E
num relampejo de dor assumi o meu papel, perante aquele cenário.
O
médico escreveu no papel os comprimidos e disse-me que iria ficar internado
algum tempo nesta instituição psiquiátrica até que as coisas ficassem mais
claras e a mente mais equilibrada. Era importante para mim que tivesse
acompanhamento médico, como assim o referiu, e que sempre que precisasse de
alguma coisa não evitasse em o consultar que estaria sempre disponível para
mim.
A
sua assertividade aprazou-me, e agradeci a sua disponibilidade.
Entretanto
Almada havia sumido. E como era seu costume, desaparecera no nevoeiro da
memória imerso nas suas palavras.
-
O amor verdadeiro não tem vista para o mar.
-
Doutor acredita no amor?
-
Claro meu jovem. Acredito no amor, mas acredito mais na realidade. Talvez sejam
conceitos incompatíveis, quando tomamos consciência que as coisas são
imperfeitas e o amor é um sentimento tão puro. Não nos damos conta que são os pequenos
pormenores que fazem toda a diferença.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Floresta
O silêncio que se escuta
quando coloco a minha cabeça sobre o teu peito
é do bater do teu coração
que se põe a jeito
e posso assim te chamar
para que venhas a mim
sendo o sentido do lugar
do nosso lugar sem fim
e o teu nome que soletro
em noites de madrugada
é do meu sentido
um puro acompanhar
e quando mais forte se torna
este meu amor por ti
é quando tu foges
para bem longe de mim
então procuro-te na floresta
onde te escondes
e imerso nos teus sonhos
para que me acordes
de sonhos, sonhos mil
são o que eu posso sentir
por te amar assim
é que a minha vida tem sentido
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Negro da luz
Negro da luz
é fogo de teus olhos
pedaços de uma alma
presa pelo fio da vida
e quando ao espelho teu
concedes as palavras
é um elo perdido
de quanto mar o ser assim
maior do que a maré
do interior de mim
e o profundo olhar que me lanças
são ondas que se arrastam
sendo amor da areia que permeia
todas as tuas marés
numa fina forma de ti
Chamo-te como tu me chamas
Chamo-te como tu me chamas
no silêncio da noite
entrando em tuas portas
de teu imenso interior
ondas que permeiam o mar
em teus olhos molhados
sinal da tua alma
de fonte ausente inesperada
e chamo-te como tu me chamas
na orla do mistério
quando a nossa saudade aperta
sou teu mensageiro
e digo-te como tu me amas
de um dia amar-te assim
chamo-te como tu me chamas
no interior do teu jardim
falo-te como tu me falas
numa voz de ternura
recebo-te com tu recebes
para ser tua ventura
e chamo-te como tu me chamas
num dia soar assim
peço como tu me pedes
para te amar até ao fim
Conto - " A outra vida da Morte "
Entrei em
coma à umas horas atrás. Não posso precisar bem como tudo aconteceu, mas julgo
que foi um acidente de viação que me atirou para esses cuidados. Embora o meu
corpo esteja adormecido, os meus sentidos permanecem intactos e sinto o que se
vai passando à minha volta. Recordo-me com vaga noção dos paramédicos que me
auxiliaram a sair do carro que capotou na auto-estrada. Lembro-me que pisei um
lençol de água e puxando pela embraiagem o carro estremeceu e capotou,
perdendo-se no infinito da estrada morta, mergulhando na água. Depois a
restante situação, que recordo como se a minha alma saísse do meu corpo, foi da
ambulância a levar-me para o hospital mais próximo, com a sirene que exauria o
seu som, às altas horas da madrugada. Era de noite. Uma noite de tempestade
quando tudo sucedeu. Daquelas noites, em que as estrelas afundam os seus sinais
pela terra, incidindo-se à luz pela beira dos passeios ausentes. E recordo-me
do teu olhar perdido junto a mim. O que te teria acontecido? Terias sobrevivido
meu amor? Mas encontrava-me em paz. Uma sensação de calma que povoava todas as
minhas células, como se a alma procurasse para além da estrada que é a vida, um
qualquer sinal da tua presença. O meu corpo deitado na maca do hospital parecia
retalhado com a fúria do embate, quando o carro o percorreu no tempo e os
nossos corpos se ergueram com essa fúria despejados junto aos vidros que se
partiram. Do lado do condutor ias tu. Imersa nos teus pensamentos. Momentos
antes, discutíamos o facto de aquela mulher se meter tanto nas nossas vidas.
Tratava-se da minha sogra. E recordo-me de tu me dizeres que ela só queria o
nosso bem. O que seria do nosso filho que ia na tua barriga. Será que teria
sobrevivido? Todas estas questões martelavam na minha cabeça, mas parecia bem,
em paz. Uma sensação de divino como se não tivesse acontecido nada de mais. De
repente ergo o meu vulto de luz na presença de uma personagem que me apareceu.
Era a morte. Olhei para ela com o vagar de uma expressão e ela ergueu a sua
foice devagar como se desligasse da vida e me quisesse levar com ela.
Incidiu-se sobre mim e pude ver o seu rosto, semelhante a uma caveira, com o
manto preto que lhe caia sobre o tronco. Perguntei-lhe:
- És a morte
e vens-me buscar?
Ela ergueu a
cabeça e pude ver os seus dentes podres, com o ar que expelia e circundava o ambiente com esse cheiro que me
fez respirar profundamente a tentar acordar daquele abrutecimento. A verdade é
que eu tinha bebido uns copos antes de tudo aquilo ter acontecido. Tínhamos ido
jantar a casa de uns amigos em Cascais. A noite estava amena e fora antes da
tempestade se ter abatido sobre a terra. Festejávamos o aniversário do Mário e
os copos foram-se sucedendo sem me ter apercebido. Bebemos, dançámos um pouco
abraçados, e destilamos conversa durante a noite toda até perto da uma da manhã.
Ao que decidimos regressar a casa perto da uma e meia, já a tempestade se havia
erguido e chovia a potes. Francisca, a mulher de Mário , perguntou-nos se
queríamos dormir lá em casa. Estava preocupada com o tempo e de nos irmos fazer
ao caminho. Respondi-lhe que não havia problema algum porque apanharíamos a
auto-estrada e num instante estaríamos em casa. Mas o mal havia sucedido quando
num lençol de água atirou as nossas vidas para uma convulsão de acontecimentos
que não conseguia ainda discernir.A morte olhou-me nos olhos e senti o seu bafo
quente incidir-se sobre mim. Naquele momento era só uma alma, enquanto o meu
corpo se debatia num coma induzido grave que parecia ir-me tirar a vida. Foi
quando ela se aproximou de mim e disse-me para a seguir. O meu vulto
desprendeu-se no ar e segui-a sentindo o seu manto esvoaçar junto a mim,
descobrindo todo o seu corpo de retalhos de um negro que a vestiam. O hospital
era enorme e pelos longos corredores perdia-se num redundar de camas e macas
que se estendiam por toda aquela ala da urgência. Via os passos apressados dos
enfermeiros que calcorreavam aqueles corredores a auxiliar quem lá estava. Mas
por onde nós passávamos parece que ninguém nos via. Ao fundo da porta entrava
outro paciente envolto em mil cuidados como se o seu caso fosse grave, e da
porta soprou um vento do exterior, que se abriu para a maca passar.
- Deixem
passar por favor. Gritava um enfermeiro.
- Por favor.
Continuava no seu labor empurrando a maca com o auxílio de mais dois.
- Sala da
cirurgia. Gritou o médico de serviço da urgência.
Continuámos
a caminhar e os nossos vultos, de mim e da morte, pareciam cruzar sem embaterem
nos corpos e corredores que se estendiam à nossa volta. Ao longe pude discernir
os pais de Amanda, a minha esposa e o olhar de pânico da sua mãe por aquilo ter
acontecido. E por mais que pudesse observar aquilo, a sensação de paz não
deixava antever o que poderia estar-se a passar.
- A Amanda?
Perguntei à morte que me olhava sempre de perto, com a sua foice presa em uma
das mãos enquanto a outra me dava indicações para a seguir. Caminhámos então
mais uns passos e entrámos num quarto que parecia ser o quarto de Amanda. Num
fosso de luz que se abateu sobre os meus olhos ela parecia estar bem. Entrámos
nesse quarto e vi a sua expressão tranquila enquanto dormia.
Sim, Amanda
tinha sobrevivido, mas o nosso filho? Infelizmente, o nosso filho não tinha
sobrevivido ao choque e tinha havido um aborto espontâneo. A minha alma tremeu
de dor e a sensação de paz pareceu desaparecer por momentos. A morte olhou
ainda com mais terror e apesar de Amanda estar bem, a criança havia morrido.
- O que foi
acontecer… Pensei por momentos. E ao longe ouvi o som de uma criança a dizer.
- Pai, eu estou
bem… Estou no céu. Ajuda a mãe.
Estremeci
com aquela revelação e senti o meu corpo vibrar, deitado na maca que acalentava
a minha vida. Então a morte pegou na minha mão e disse.
- Vem
comigo.
Não sabia onde ela me queria levar, mas
pressenti que era para um sítio de luz. Entretanto os pais de Amanda tinham
entrado na sala e abraçavam a filha com muitos cuidados.
- O Manuel?
Perguntou Amanda aos pais. O seu pai com lágrimas nos olhos, disse-lhe que
estava em coma e que o médico tinha dito que teria poucas hipóteses de
sobreviver. Os seus olhos inundaram-se de lágrimas e senti o seu eco vazio
ecoar pelo quarto em direcção ao corredor. Quis-lhe dizer que estava bem e que
em breve estaria com o nosso filho, quando a morte me disse.
- Ainda não
chegou a tua vez.
Pressenti
nessas palavras que tudo estaria bem. Para onde ela me quereria levar?
Percorremos
os passos em direcção ao exterior do hospital. Por momentos senti-me voar e vi
as luzes incidirem na nossa direcção, com focos fantasmagóricos. A morte
levou-me até uma planície verde. Parecia ser uma montanha e ao longe observei a
correr na minha direcção uma criança. O ambiente era de noite e não pude
claramente ver a sua silhueta, mas era
de certo uma criança. E gritava:
- Pai… pai…
Por momentos
os meus olhos encheram-se de lágrimas e o meu vulto amorfo encheu-se de dor.
Era o meu filho que havia perdido a vida há uns anos atrás por causa de uma
gripe e fora um foco de dor na nossa vida. Amanda e eu já tínhamos perdido um
filho há dois anos atrás. Neste momento deveria ter seis anos de idade. Tinha
sido uma morte por negligência médica, quando um surto de febre o havia atirado
para a cama. Os médicos enviaram-no para casa por pensarem que o caso não era
grave, mas tratava-se porém de um caso grave, e ele havia falecido por
insuficiência respiratória. E agora perdíamos o nosso bebé de quatro meses na
barriga de Amanda o que era também um caso de lágrimas e dor. Martin caminhou
para os meus braços. Abracei-o num abraço evasivo e perguntei.
- Martin? És
tu?
- Sou eu
pai. Olha como é bonita esta planície verde!
Olhei em
volta e disse:
- Sim, como
é bonita!
A morte
observava-nos calada na sua posição estática enquanto o seu manto esvoaçava ao
vento. O capuz escondia-lhe a cara e Martin pareceu não notar a sua presença.
- Meu
filhote! Meu filhote lindo. Exclamei a Martin.
Nos meus
abraços ele pareceu esquecer-se do mundo, e no abraço firme parecia querer
segurar-me de uma toda eternidade. Por momentos perguntou.
- A mãe?
Respondi-lhe
que a mãe estava bem, e que tinha muitas saudades dele, e que em breve
estaríamos todos juntos, como era há uns anos atrás.
- Olha pai,
um papagaio…
E Martin
segurava na mão um papagaio de papel que atirou ao ar fazendo-o esvoaçar. Um
papagaio que parecia voar imerso sob o vento crispado que soprava vindo do
longe, mas que adornava o ambiente. Então vi-o correr pelo monte com o seu
papagaio e a desaparecer ao longe, como se fosse um vulto de nada.
A morte
pegou-me no braço e com a outra mão disse para irmos. Teríamos que percorrer
essa distância em direcção a outro lado.
O negro do
céu começava a envolver-se com as luzes da madrugada. Sózinhos percorríamos
essa distância até ao outro lado. Voando por cima dos edifícios podíamos ver
toda a envolvência da cidade. Olhando o firmamento eram as estrelas que pouco a
pouco iam desaparecendo para dar lugar à aurora. O violeta da face da noite,
migrava em nossos sentidos querendo-me acordar daquela letargia. Com a sua mão,
a morte indicava-me para a acompanhar e dirigimo-nos em direcção ao mar. As
nossas sombras misturaram-se com as ondas serenas que envolviam o mar quebrando
essa passagem da maré calma, como se o seu ruído nos quisesse acordar.
- Aonde
vamos? Perguntei-lhe
Ela apenas indicava com o seu rosto olhando em
frente, cruzando o vento pardo que nos atingia a face de forma serena, e que
fazia esvoaçar o seu manto. Naquele momento éramos apenas dois vultos a voar na
madrugada, ao som da natureza e alegres por aquela pequena viagem. Mas estava
prestes a acabar, quando nos incidimos sobre uma casa.
Eu era
proprietário de uma fábrica quando tudo aconteceu. Digamos que não tratava
assim tão bem os meus funcionários. A nossa estratégia era de marketing
agressivo. Envoltos em campanhas, e por causa da crise, a austeridade na
empresa era uma prioridade. Por isso, o salário de alguns dos funcionários não
era o melhor. Recordo-me como no dia anterior tinha tratado Venâncio, um dos
funcionários dizendo-lhe que o despedia se o seu rendimento não melhorasse. Ele
era um dos meus vendedores, e o marketing agressivo implicava que todos eles,
da área das vendas, obtivessem os melhores resultados. Descemos então sob a
casa de Venâncio, uma casa velha, situada nas imediações ao fundo da cidade, na
área pobre. Pode ver o seu rosto deitado na cama. Parecia adormecido pois via-o
pela janela do seu quarto. Estávamos nós os dois do lado de fora a vê-lo dormir quando a morte me disse que
tínhamos de ir ao futuro para que eu pudesse ver os efeitos que teria na vida
daquelas pessoas. Talvez quisesse prevenir de alguma situação. Regressámos a
uma noite não tão longe daquela data, á hora de jantar. Venâncio estava a cear
com os seus dois filhos. A sua esposa por sinal havia falecido há uns anos
atrás com leucemia, e agora era ele sozinho que governava aquela casa. As
crianças sossegadas comiam um prato de sopa, enquanto o seu pai compenetrado,
as via comer. Olhava para elas com ar de carinho.
De repente o
telemóvel toca. Do outro lado uma voz ríspida de ira responde à chamada. Era eu
que lhe tinha telefonado, num dia em que o mês fechava, e as suas vendas não
eram nada por ali além.
- Venâncio,
amanhã temos de falar na fábrica. Estive a ver o seu mapa mensal e as suas
vendas ficaram muito abaixo dos objectivos. Gritava-lhe com a voz irada ao
telefone.
Ele apenas
gesticulava dizendo que tinha feito tudo por tudo para melhorar os seus
objectivos mas que a crise assim o dificultava a atingi-los.
Os filhos
serenos olhavam para o prato de sopa e para o pedaço de pão que metiam à boca e
não compreendiam o que se estava a passar. Mas a verdade é que aquele emprego
do seu pai era muito importante para a sobrevivência da família. Sem ele o seu
pai desempregado podia até perder a custódia dos filhos para a assistência
social. Pois já eram precárias as condições em que viviam. E eu que pensava que
o iria despedir nos próximos meses, sendo um alvo a abater na empresa devido ao
seu fraco desempenho.
- Amanhã
falamos melhor Venâncio, mas é importante que compreenda que se os objectivos
não forem atingidos não poderá permanecer cá a trabalhar. Continuava a dizer
com uma voz severa e de uma falta de respeito à sua condição humana.
Depois de
desligar, reparo como ele se senta novamente à mesa, com o semblante carregado.
As lágrimas escorriam-lhe sobre a face e os filhos mal davam conta disso. Deviam
ter entre quatro a seis anos de idade. Depois levanta-se da mesa e vai até à
sala. Abre uma garrafa de whisky e pegando num copo dá um trago. As crianças na
cozinha mal davam conta do que se estava a passar, mas Venâncio devido à
pressão na empresa abusava do álcool com efeitos que isso tinha para a sua
saúde. Encheu então outro copo e deu outro trago na garrafa. Depois, pegou nas
chaves e saiu deixando os seus filhos sozinhos em casa, despedindo-se de cada
um deles com um beijo na face.
- Onde vais pai?
Perguntaram-lhe as crianças.
- O pai já
volta, até lá portem-se bem… Respondeu Venâncio com um aperto na garganta
semelhante a um nó cego que parecia evadi-lo daquela dor.
Então saiu
de casa. Eu e a morte, no alto do nosso passeio acompanhamo-lo de perto,
enquanto ele se dirigia para o carro. A noite ficou de repente mais brilhante,
e as estrelas do céu pareciam avisar a esse prenúncio. Venâncio partiu com o
carro em direcção à estrada principal e os nossos vultos de névoa
acompanharam-no. Passados uns minutos o seu carro aproximou-se da ponte 25 de
Abril. Venâncio abre a porta do carro e salta cá para fora. Com as lágrimas no
rosto, parecia que líamos os seus pensamentos deprimentes, que ansiavam por
ajuda, mas que não havia nada a fazer. Sem emprego no futuro e com a perda á
uns anos de Ângela, sua mulher a dor no seu coração era quase insuportável.
Então descendo do carro e parando junto às imediações da ponte, virou-se para
uma das suas bermas. As lágrimas continuavam a escorrer-lhe da face. Quis acordá-lo
daqueles pensamentos que ouvia dentro da sua cabeça e que o tinham atirado para
ali.
- Ele vai
saltar… Foram as minhas palavras para a morte. Um ligeiro pânico instalou-se no
meu peito, pois Venâncio preparava-se para saltar daquela ponte e acabar com a sua
vida.
Pegou então
no seu telemóvel e parecia escrever uma mensagem de despedida.
“ Digam aos meus filhos que os amo
muito.” Foram as
suas palavras, quando deixou cair o telemóvel no chão e saltando, apenas um som
surdo se escutou percorrendo as labaredas da iniquidade, e o vento gélido que
cortava a noite. Ainda gritei para que não fizesse isso, mas foi tarde de mais.
A morte
olhou para mim com a sua expressão de horror e pareceu dizer-me que todas as
causas têm as suas consequências, e que ainda poderia inverter aquele futuro
tão negro na minha vida. Se respondesse porque era assim no emprego talvez
diria que fora por causa da minha vida também não ser um mar de rosas, mas nada
previa aquele acontecimento. Os objectivos agressivos da empresa tinham tirado
a vida a um homem bom, se ainda houvesse deles, e Venâncio era um deles. Não
porque assim o dizia, mas porque tratava os seus filhos com carinho. Mas aquele
desfecho não era de um homem bom. Como podia abandonar os seus filhos e
entregar-se á depressão. Mas não havia nada a fazer naquele momento ele tinha
mesmo acabado com a sua vida.
A morte
olhou para mim e regressámos ao presente, com a madrugada que espoliava o céu
com os seus raios de azul límpido que pude ver incidindo sobre o Tejo, onde
estávamos agora.
Todas as
causas têm as suas consequências. Era a lição que retirava daquele
acontecimento que ainda não tinha ocorrido. Subitamente fomos transportados
para outro local. Cruzamos os céus com a mesma fúria com que transpondo aquele
local, tínhamos visto Venâncio a saltar aquela ponte e regressámos ao presente.
A madrugada que se avistava cruzava o nosso olhar com a intensidade da luz do dia
que surgia. Parece que entrávamos numa floresta, pois podia ver a cor das
árvores que separavam a sua luz com os fios dourados que imergiam das copas.
Perguntei à morte o que estávamos ali a fazer. Ela olhando-me indicou com a sua
mão para que a seguisse. Ao fundo da floresta, com os raios de luz que surgiam
no chão e que furavam a pequena densidade da vegetação encontrava-se um velho
perdido sentado no chão. Parecia cego, pois os seus olhos escondiam-se à luz
imerso nos seus pensamentos.
- Quem és
tu? Perguntei-lhe olhando nos seus olhos negros e fechados, que parecia apenas
ver o que a sua alma assim absorvia.
- Eu sou tu…
Disse-me, levantando a face como que procurando a voz que havia falado com ele.
- Como assim,
és eu? Perguntei-lhe novamente.
O seu rosto
combalido parecia antever uma miragem e levantou-se. Os seus olhos procuraram
por mim e as suas mãos encontraram-me. Estava vestido com um vestido roto que
lhe descia sobre os ombros em direcção aos seus pés. A sua postura côncava
indicavam uma idade já bastante avançada e os fios de barba que lhe alargavam o
rosto pareciam crescer em profundidade na sua face.
- Ainda bem
que vieste. Tenho algo para te confidenciar.
Entregue à
sua batuta o velho homem agarrava-me as mãos com firmeza e com a força do
coração.
- Tens de te
entregar ao coração. Disse-me por fim. – Senão irás ficar sozinho.
Compreendi
por aquelas palavras que aquele cego simbolizava a cegueira com que conduzia a
minha vida, imerso no trabalho e pelos resultados atrozes que a empresa
necessitava, e por isso respondi-lhe.
- Mas eu não
consigo. Apenas penso no trabalho e Amanda de certo me irá abandonar um dia.
- Não te
abandonará como fizeram os teus pais quando eras pequeno.
E na verdade
eu era órfão de pai e de mãe. Eles tinham-me abandonado mal eu era criança para
um orfanato e a condução da minha vida tinha sido feita com alguns
constrangimentos a nível pessoal, passando por cima de quem se atravessasse no
meu caminho. E isso era óbvio pelo facto de levar uma pessoa a cometer
suícidio, como era o caso de Venâncio, algo que eu ainda podia modificar. A
minha vida tinha sido conduzida pela força do poder, e ter aquela fábrica era a
minha vida, mas não era o suficiente, porque o que interessa é quanto amas, e
não o poder que tinha na minha vida.
Ele pegou
com mais força as minhas mãos e disse-me olhando na face.
- No futuro
irás ter três filhos. Eles serão a tua força, mas todos eles te abandonarão. A
tua tirania irá fazer com que se afastem de ti e por isso terás de ser manso
pelo coração. Terás de mudar a tua atitude.
Acenei com a
cabeça dizendo que o compreendia, mas ainda estava imerso no facto da empresa
ser a minha vida. A morte olhava para nós serena. Não compreendia como aquela
morte podia ser tão serena, de olhos pregados no nosso diálogo e de manto
quieto à intempestividade que se levantava agora no ar, com a força do vento
que soprava ao fundo daquela floresta.
O velho
homem pegou nas minhas mãos e deixou-as cair no meu colo. Entregue à minha
postura.
- Três
filhos… Pensei, o que me alegrou o coração. A morte de dois deles como tinha
sucedido combalia-me de dor, mas ir ter três era de um profundo ardor de
alegria que suscitava na minha alma.
- Tentarei
ser mais compreensivo com a vida.
Disse ao
estranho homem, que parado parecia escutar o som dos pássaros ao longe. Com o
vento que se levantou, a morte disse-me para partirmos. Tínhamos falado com o
meu Eu do futuro e agora era tempo de partir. De partir em direcção ao hospital
onde o meu corpo estava preso aquele coma. Seria altura de despertar para a
vida. Todas aquelas indicações que me haviam sido dadas eram a prova de que uma
vida pode ser modificada para melhor, se a alma compreender as razões pelo que
muitas vezes conduzimos mal a nossa vida.
Agradeci à
vida por aquele manifesto, mas na verdade teria de agradecer aquela pequena
morte que me havia feito compreender todo aquele processo. Então levantamos voo
em direcção ao hospital, cruzando os céus. Pude ver o meu rosto novamente
reflectivo na água do mar enquanto voamos sobre a fonte cristalina dos oceanos
e senti os fios de laivo dourada embaterem sob a minha névoa enquanto cruzamos
o céu naquela madrugada que dava lugar a um novo dia.
No hospital
continuava tudo na mesma. Sob a minha cama e ao meu lado podia ver Amanda
segurando a minha mão à espera que eu acordasse. Estava pousada na minha
direcção sentada numa cadeira à minha beira e escutava com os seus ouvidos o
bater do meu coração incidindo-se na máquina ao seu lado.
- Amanda não
te queres deitar um pouco. Perguntou-lhe a mãe que entrara no quarto.
- Não mãe…
quero estar aqui quando Manuel acordar.
Á saída pude
ver os rostos constrangidos dos seus pais, que aguardavam que a filha saísse um
pouco cá para fora para descansar. Com pena pude sentir os seus semblantes
carregados por aquela tragédia que havia ocorrido.
A morte olhou
por uma última vez para mim e compreendi que só veria o seu rosto depois de
muitos anos. Por sinal, aquelas revelações tinham-me feito compreender que a
vida era afinal o outro lado da morte e que os seus conselhos induzidos, eram
uma forma de encontro com o melhor que existe em nós. Pude compreender que a
perda dos meus filhos tinha uma razão maior, mas que eles estavam bem. A esta
altura Martin corria com o seu papagaio por aquela planície verde, brincando
como se não houvesse amanhã, e Venâncio ainda com vida, esperaria um melhor
reconhecimento apesar das suas dificuldades nas vendas, mas com algum apoio
poderia modificar. Não era necessário que ele perdesse o emprego, já que a sua
vida já era repleta de tantas dificuldades. Quanto ao meu Eu no futuro, teria
de modificar a minha atitude em relação às pessoas que mais amava, que seria
Amanda e os filhos que iríamos ter para minha alegria, tal como me tinha
confidenciado.
Então o meu
corpo começou a tremer. Uma névoa estranha invadiu a minha alma, e um cortejo
de luz incidiu sobre os meus olhos.
Senti o
corpo de Amanda debruçado sobre mim e foi quando acordei, abrindo os olhos
suavemente. Estava naquele quarto de hospital e Amanda olhou para mim com um
olhar de ternura chamando os enfermeiros.
- Amanda
tive um sonho lindo! Foram as minhas palavras para ela.
Ela
abraçou-me enquanto os enfermeiros iam na minha direcção para que pudessem ver
o que se passava. Tinha acordado daquele coma.
FIM
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