quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Há dias

Há dias em que o amor parte a meu lado
imerso no silêncio
e fugindo se desmascara de toda a sua certeza
como quem sonha um sonho
do qual jamais acorda.

Há dias em que o amor
me surpreende com um beijo no rosto
e incólume me persuade
em mais uma investida
de cordialidade.

Há dias assim
em que o amor se desfaz em pedaços
nos quais se divide
e se expande para outro horizonte.

Há dias em que o amor parte a meu lado
e qual mar, quais marés
se sente inusitado
e perene
como quem brinca com o sentimento.

Há dias em que o amor
se desmarca de todo o seu sentido
e se joga de um precipício
sobre todo o seu vazio.

Há dias assim
em que a vacuidade
do amor é pedra dura
que seduz e intensifica
a sua compostura.

Meu amor

O meu amor surge-me nos sonhos,
com a mesma certeza de me amar
com que cobre as minhas dúvidas.

Traz consigo a melancolia 
das palavras simples
e leva com ele a tristeza 
das tardes absolutas.

Em que nos braços um do outro
nos mergulhavamos em furor
para entender que já 
não havia dor.

No meio da tristeza 
ela desvanece-se
e apenas resta a esperança 
de um beijo breve.

Que o meu amor vem de mansinho
e traz consigo pétalas em seus dedos
com que há-de celebrar o nosso enlace.

Não faz mal
assim espero que com sua voz
me possa relembrar de nós
que somos só um

A mesma parte do mesmo signo
a mesma arte de um designio
que nem nós podemos compreender.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Alma

A alma
é um sopro de vida,
que se desvanece
num sol raso
e se exponência
sob um mar calmo
que se avizinha
a minha espera.

Mergulho
e dentro desse abismo
pergunto pelo teu nome
que me foge sem sentido.

Mergulho
e a prosa se faz poema
em te ter à minha espera
esperando por ti
em mim coração.

De quantos nomes perguntando
quantos céus sob nossas cabeças
que se agitam nesse cosmos
cujas estrelas são pequenos
signos na minha mão.

E de quantos céus se faz vida
assim tão deveras desvanecida
que o céu se acalenta
em sofridão
e as nuvens rebentam
na chuva que nos 
há-de redimir
e trazer esse perdão.

E é tão pouco 
aquilo que te peço
que te confesso 
ser esse o fado
que para ser inanimado
e perene e inusitado
se consubstancia
na minha idolatria
por ti.

Tu que trazes tanto em tua voz
que remetes a nós 
estarmos sós
tu e eu e o inteiro universo
que nos acolhe em seu colo
que nos reconforta
e nos diz o que é o amor.

Como que esquecendo a dor
se nos inoportuna
em nossos sentidos
que baços
se tornam em traços
de nós os dois.

domingo, 27 de outubro de 2013

Anseio

Anseio pela tua presença
de lábios molhados
num silêncio insurdecedor
que nos faça caminhar
juntos em busca
da madrugada nova
que se adivinhe
mais tarde.

Vida

Naquele lugar
onde voltando a nascer
viu a vida
a sua subtil individualidade
iludida
na certeza de o ser.
Compreendo agora
a inevitabilidade do ser
naquele lugar
ser percebida
com o nada
que o há-de escolher.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Album: Davas-me tanto

*confidÊncias*

LA(m)
Davas-me tanto
             MI
tanto de mim
        FA
que pareceu tanto
DO        SOL
tanto de ti


Querias-me amar
não compreendi
foi tão perto
que nem entendi


Sonhamos um sonho
de acreditar
era só isso
fizes-te me sonhar


Anjo
de labaredas
perdoa esta trama
que não foi em vão

Outono das folhas

Existe a certeza
de uma estação incerta
repleta de folhas
num chão plano

Sopradas ao vento
de sentido tanto
que o Outono vem aí
consigo vê-lo em prato

E a chuva
que caí na minha frente
cujas gotículas parecem contar
uma história diferente
da nossa.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Surge Outono

Surge o Outono
na sombra das árvores
despidas
bailando com seus ramos
num céu escuro
como se o mundo
fosse hoje,
e sob céu triste
que abandona a chuva
vêm à procura de vida,
nessa sua despedida.
Seus sinais são poemas
quadras de devoção
arde Outono, arde,
arde de paixão.
é menino e surge
com as sementinhas
sopradas pelo vento,
no firmamento.

domingo, 20 de outubro de 2013

Linha de água

Na linha de água
correm rumores de vida
parece que o céu
se encontrará com a terra

Dessa linha
definida do teu rosto
surge a melancolia
de um céu triste

Quantos serão os abraços
quantas as estações incertas
para que obtenha o teu calor
e decerto o teu amor

Rosto

Na linha do teu rosto
que demonstrava desgosto
pode ver o pensamento
e o teu discernimento.
Imaculado
entendias o que havia a entender
para mais tarde aferires
o que havia a perder.
E era tão pouco
que a tua alma ripostou
e cega falou
que nada havia a compreender.
Apenas ser
era o que querias
e dentro do teu ser
florir.
Com belas pétalas em teus olhos,
decorada com as mais belas folhas,
que te cresciam nos braços,
em direcção ao céu.
Assim, fora do teu véu
pode-te ver florida,
e despida
para meu contentamento.

sábado, 19 de outubro de 2013

Album: Caminhos

*confidÊncias*

La(m)              (020210)
Andamos por caminhos definidos
(054050)                          (032030)
de mistérios conhecidos

Andamos por caminhos definidos
labirintos percorridos

Andamos por caminhos definidos
em estradas mal marcadas

Andamos por caminhos definidos
ausência do teu ser


Refrão:
Fa           Do
Por caminhar
La(m)           (020210)
foi ter a esse lugar

Conquista

Havia tanto de mim 
para te mostrar,
tu que receias a dor
de te entregar,
e atrás do véu te escondes,
da subtil alegria do amor.
Mas tornas-te abrir à tua dor,
para enfim, saciares a tua sede
e em mim o teu calor.
Sou dois braços, 
abraçados ao teu encontro
para que possas
sentir a minha força,
e tanto que te abraço
que confidencio,
que a paixão é 
lume ardido por um fio.
Tu que vês em mim
o imenso mar,
na sua gloria de conquistar, 
e eu vejo em ti o céu,
e todo o teu amor é meu.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Album: História de encantar

*confidÊncias*

Do
Tu sabes
                             Lam
que eu sou um contador de histórias
                        Mi
e em cada uma
                            Sol
há sempre uma razão


Tu sabes
que a vida é madrasta
para quem não a trata
devidamente bem


Tu sabes
que o sol já não brilha
como brilhava
e a lua fascina


Refrão:

Fa                         sol
Para que queres saber
Do              mi        sol
se eu vou adormecer
 Fa           sol                 Lam
com a tua história de encantar

Explicar a solidão

Tentei explicar a solidão
ela que me levou pela mão
e me tentou
por outro caminho.
Assim 
perdido
consegui ver
por entre o olhar esquecido
quanto valia estar contigo
desfrutando a solidão.
Que era a mesma
que havia à pouco
sentido
sem estar contigo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Destino (continuação 7 do conto)



A noite tinha caído.
Os sons dos carros perpetuavam-se pelos passeios no seu regresso a casa.
A atmosfera fria dirigia-se em direcção à faculdade.
Desci aqueles breves metros e aguardei pelo autocarro.
Na paragem olhei os rostos alheios, reparando na dureza da vida. Questionei de que seriam feitos os seus sonhos. Com quem partilhariam os seus anseios. Como lidariam com as coincidências da vida.
Os rostos fechados pareciam declinar desse propósito e apenas eu era feito dessa fantasia.
Apenas restava esse sonho, esse acreditar.
O curso acabava dentro de meses, tal como o pronuncio da minha Avó marcado nas suas rugas, e no seu olhar vago com que se despedia da sua história.
Por isso o sonho alimentava a minha alma. Transmitia-me o fogo que da dor se tornava desabafo, quando imerso olhava os aviões que se despediam em lágrimas cravadas pelos espinhos do tempo.
A minha arte era o eterno sentimento partilhado por todos nós. A eterna melancolia. Em qualquer local falaria a linguagem do mundo. A linguagem da sensibilidade das palavras que se compõem como se vivessem para além do papel.
A música também teria esse dom. Reunir os povos. Deles criar a causa, do poder das palavras por um mundo melhor. Que é nosso dever criar em cada dia de nossas vidas.
Palavras proclamadas ao vento, inspirando na sua emoção.
Por isso apenas restava aguardar pelo pronuncio da vida. Aguardar pela sua esplendorosidade.
Acredita e deposita em ti as infinitas esperanças.
Esquece as preocupações. Eu estou aqui para te apoiar.
Da escrita fundia o belo e o feio para alcançar o sublime. Porque apenas no sublime podia encontrar a essência do universo.


            Nesse dia ao chegar a casa, surpreendi a minha Avó com um beijo na face ao que me perguntou o que se passava por esse gesto inesperado.
Respondi que me enviaras uma mensagem.
A rapariga dos olhos meigos.
Olhou-me nos olhos e surpresa respondeu.
“ Já te respondeu à carta? “
Respondi que o gesto tinha sido imprevisto, e a coincidência teria sido a letra da música que tinha escutado, lendo-a.
A vida havia escrito no seu livro a primeira página da nossa história de amor.
Comoveu-se recordando o meu Avô. Tal como as palavras ao reler as cartas de amor que havia escrito à tantos anos atrás, mas cujo significado continuava marcado na eternidade da sua alma. Como se deles aguardasse o seu reencontro.
Ela acreditava que ele viria ao seu encontro e nesse momento da partida lhe daria a mão para a levar com ele para o outro mundo. Retomando o amor que havia sido interrompido em breves segundos.
Esse o tempo sem significado se ao olharmos para o infinito recordarmos a sua verdadeira grandeza.

            Naquela noite o céu estava sereno. A luz da lua brilhava sobre os passeios iluminando a escuridão.
O som do silêncio apenas era interrompido pelo o cortejo do vento que se evadia pelas poças de água rente ao passeio, confluindo nos passos de que os despercebidos as percorriam.
Olhou novamente para mim e releu a canção que tinha escrito no meu caderno.
Sorriu e disse que devia sempre confiar na vida.
Sendo-lhe grato, ela retorna-nos com o seu amor incondicional.
Escutei os passos em direcção ao caminho, mas cujo destino apenas traz consigo o que o livro da vida já escreveu.

            Das suas palavras fez-se silêncio.
Tal como na noite passada senti um arrepio. A presença do meu Avô fazia-nos companhia naquele momento e senti-me acolhido por ele.
A minha Avó olhou por cima de um dos meus ombros.
Sorriu.
Senti uma paz dentro de mim, apaziguando o meu desassossego. Como se me iluminasse com a sua luz.
“ E tu, já respondes-te? “ Perguntou com um sorriso no rosto e os olhos a brilhar. “ Tens de lhe responder! ” Salientou na sua premonição.
Revivia a sua história de amor, o seu passado, as suas memórias, e que naquele tempo em que era feliz se abraçava ao meu Avô dirigindo todas as juras de amor. A cidade havia-os acolhido nas noites de luar, nas caminhadas na noite em que a atmosfera iluminava as suas palavras.
Respondi que tinha escrito algumas frases mas que não iam ao encontro com o que desejava transmitir.
“ Apenas o teu coração te inspirará as palavras perfeitas. “
O caminho do coração.
O que declina o pensamento, e cujo sentimento é para a maioria de nós irrazoável, pela razão que nos remetemos diariamente nos nossos juízos, valores e parâmetros sociais.
“ Apenas ele te inspirará as palavras sublimes. “
Tentei escutá-lo, mas era absorvido pela razão, e pela minha intelectualidade. Tentei dele escutar o sublime.

            Daquele som de Inverno, cujas folhas nas árvores caiam imersas nos passeios perpetuando a pouca natureza que restava naquele bairro árido e deserto, observei os trajectos da lua.
Ela que um dia me havia dito para transmitir os meus anseios e preocupações para a Lua, olhando-a na emoção, quando dela se fizesse cheia. E ela retornaria a paz ao nosso ser, com a sua luz brilhante.
A lua reflectida no Oceano, cuja história de outro tempo, era apenas um reflexo da passagem do mundo, perdia-se agora em memórias vagas.
Nessa rota, imaginei a Índia.
O país místico onde se reúnem todos os povos e cujo misticismo podia dar algum sentido à tua vida. Sendo dai que encontrarias a sua beleza.
Seriam como pétalas banhadas no rio para o qual flui a corrente em direcção ao mar.
A despedida de um momento em que as lágrimas se proclamam na sua redenção.
De onde surgem as juras de amor.
Perguntei-me qual seria o som do teu coração se nesse instante olhasses a lua.
Que reluz no céu e nos protege da nossa gravidade.
Que te reúne à terra e suporta a saudade de outro tempo e de outro lugar.
Admirando-a como se admirássemos o mesmo poema e ao nos inspirarmos encontrássemos a nossa devoção.
A nossa musa. Tu eras a musa perdida nas brumas do eterno. Aquela que em toda a vida desejava encontrar.

            Na Índia, o ancestral encontrava na pobreza a sua contemplação. O contraste com a cidade de Lisboa. Os seus bairros eram criados de latas e cartões imergidos em forma de parede, cujas valetas suscitavam a ironia das nobres avenidas, que ostentavam o desequilíbrio de riqueza. O migrar dos tecidos novos obstava os perdidos em formatos esquecidos. Aos que os bairros se perdiam por isso mas de forma não menos singular e talvez mais única. A pobreza que reunia a fluência dos povos. Dos sábios que percorriam essas ruas na ascese para o caminho de suas vidas.
Talvez algum te tenha proferido o seu oráculo.
Da forma das nuvens e dos símbolos que lia nos céus, ao encontro com o que te diria que viverias uma intensa história de amor.
No imenso mar de vidas, eram proclamadas junto a esses bairros as palavras dirigidas à partida dos que partiam imersos nas águas. Ao longe, na minha cidade, partilhando dessa tua memória, via o Rio Tejo que também se tornaria teu.
Tu que és melodia do vento. Som do encanto da chuva e dos pássaros que retomam ao seu ninho na noite escura. Inspiração da minha alma que se torna tua, em cada palavra que escutava ao longe.
Partilha comigo o céu calmo e sereno. Dos seus traços perdidos no tempo, era como o Oceano que envolvia esse país, cujo profundo é o tempo que se repercute ao som das estações.
Marés de que são feitas suas lágrimas em sua paz.
Contemplando a simplicidade dos banhos nas suas águas sagradas dos rios que se lhe afluem, e cujo intuito é a purificação. Tomados ao renascimento da lua em cada noite, que nos abençoa com a sua luz. Escutando o vento que sopra sobre essas águas silenciosas, mas cujas sombras o roubam à sua serenidade tornando-o tom de tempestade.
A palavra Cavaleiro era a sua esperança. Queria cruzar com ele a felicidade, unindo dessa saudade, o eterno do cair da noite.
Escutei o coração. A inspiração trouxe-me o seu som, soprado pelas palavras, que eram tuas de toda a eternidade.
            Escrevi…

Carta
            Para ti Donzela,

Do teu Cavaleiro foram sinais partida do destino,
De tua música se fez marés e criou o mar,
Se por ti me sinto assim sozinho,
É porque procuro em ti o meu lugar.
Desta Lua que partilhamos horizonte
Brilho manifesto em teu eterno olhar
São teus olhos, é tua paz é tua vida
Que eu quero partilhar.
Vai á tua procura, da tua alma
Que em paixão se tornou teu respirar
Nas palavras que remeto sem voz mas sinto
É em mim o direito a te amar.
Desse breve vento da manha
Em breves segundos que se recriou o céu
Dele se fez mundo
Imerso na eterna melodia das palavras.
Em teu colo partilhei minhas angústias
E tu com teu olhar disseste estou aqui
Foi desse amor incondicional
Que encontrei o meu abrigo.
Se meu anseio me impele a caminhar
E teu caminho é em ti a tua busca
Nele procuro os teus passos
Que em mim sejam certeza.
De que vale a vida
Se nela se perdem as juras
Os momentos de amor eternizados
Evocados ao luar.
Laços enamorados
Palavras em comunhão
Sentidos cúmplices
Ao acreditar em ti.
Teu cavaleiro surge da sombra
E seu perdão é no mundo redenção
Abraça a tua alma
E protege-te da noite escura.

                        Teu Cavaleiro.

Nostalgia

Lembro-me daquela poesia
era o pouco que te fazia sorrir.
Nas horas tardias
via-te amargurada
pela natureza da tua alma,
Era nostalgia dos dias passados
que te fazia sentir assim.
E eu sem nada poder fazer
recorria ao meu parecer
para que abandonasses essa 
tua vontade de morrer.
Era tão pouco aquilo que sucedia
e tu na tua melancolia.
Falava-te do tempo
falava-te de nós,
mas amargurada
querias estar a sós.
E eu sem nada poder fazer,
senão recorrer ao entardecer do dia
para te lembrar que o meu amor
nunca morreria,
e estaria ali para te ver vencer
essa inevitável tristeza do teu ser.

Canta

Canta,
o silêncio do
meu desencanto
nas horas tardias
da noite,
do voar dos melros 
nos beirais,
Canta
a alegria do entardecer
quando o sol já lá vai,
os dias que passam
pela madrugada,
Canta,
a alma repleta de lembranças,
o destino do mundo
na palma da mão,
em um qualquer coração,
Canta,
que assim teu mal espanta

Espero por ti

Espero por ti, meu amor
à beira da fonte
Espero por ti,
e pelos teus beijos,
teus livres desejos, 
e a tua mão na minha.
E enquanto não chegas,
vou sonhando connosco,
aqui à beira da fonte,
trocando caricias,
e ternuras.
Sei que quando chegares
trarás contigo todas as respostas
aos meus anseios.
E enquanto não chegas
pergunto por mim e pelos meus meios
para te ver sorrir.
Ver-te sorrir
de sorriso rasgado,
com a felicidade estampada no rosto.
E enquanto não chegas
vou sonhando connosco,
trocando segredos,
e esquecendo os desgostos.
Para te ver sorrir,
o que eu te farei,
umas cocegas no rosto.
E assim o mundo
parecer-te-a bem disposto.

Sentido

Não há sentido nenhum
em fazer sentido
di-lo este que vos fala
em pranto.
Para que haja sentido
é necessário que o desejo
arda no fogo que queima o rio.
No mar que aluvia o desejo,
do seu próprio ensejo.
Só assim fará sentido, 
que as marés dos nossos corpos,
se tornem poesia,
e que o espasmo seja o de 
um olhar perdido.
Só assim fará sentido,
se a brisa do sol queimar
as tuas belas pestanas, 
e no fim os doces beijos 
se tornem
em pequenas caricias.
E assim sem sentido nenhum,
que nossos corpos se fundam,
no terno de um sonho,
em que o ar que respiremos
seja o absoluto profundo.
Fará sentido se nossas mãos se 
abraçem com a fúria dos astros,
e nossos corpos balancem
com a força de uns remos,
num mar qualquer.
Sentido fará se 
nossos olhares enganados
se cruzem de vez,
e que as nossas almas
se fundem uma e outra vez.
Só assim fará sentido,
se o arrebatar do desejo,
nos liberte de todos os véus,
e transparentes,
nos torne-mos dementes de paixão.
Com a fúria dos astros,
nessa traição dos corpos.
Assim fará sentido se todo
o desejo recebido,
e no fim a poesia se esqueça
e apenas mereça,
parte do que houve de sentido,
em sentir assim, contigo. 

Album: It´s never to late

*confidÊncias*

(032033)
It´s never to late
(002233)    (022033)
to see the stars


It´s never to late
to be young

It´s never to late
to be strong

It´s never to late
to be there

It´s never to late
to be loved


Refrão:

Sol                 Fa
When you loved
Do                  Sol
Everybody cares

Silêncio

Trago-te o silêncio
envolto em minhas mãos
tão perto de ti
como perto de mim
para que possas reflectir
no que me queres pedir.
Pedes-me o amor
numa bandeja de cor.
Questiono se o silêncio 
te abrirá o coração
para depois te depositar
o meu amor.
Mas falas-me em falácias
e como ele está fechado.
Nem a luz crepuscular
que o tenta abrir, 
assim o consegue.
Por isso,
trago-te o silêncio
envolto em minhas mãos
que te envolva num abraço.
Só assim poderá libertar
todo o meu amor,
com toda a sua cor.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Destino (continuação 6 do conto)



Tinha adormecido quando os primeiros focos de luz surgiram imersos pela madrugada. O seu brilho fluía em nossa casa, luzindo em ondas da manhã. A claridade surgia no horizonte, iluminando o céu ainda escuro. Acordei com o barulho dos carros. A janela semi-fechada da noite anterior deixava entrar o ar da manhã, que rejubilava ao cheiro da terra molhada. Os traços de cor permeavam os pingos que desciam lentos junto às paredes ao serem atravessados pela luz.
Levantei-me e olhei lá para fora.
A rua reflectia a atmosfera límpida que brilhava com o tom das partículas de água que evaporavam com os primeiros raios do Sol da manhã. À medida que o dia surgia, o céu ainda nublado imergia da luz do horizonte.
Ao longe, um avião surge no céu em direcção ao seu destino. Sentindo nele um pássaro que plana no céu, e se perde em seu sonho, nos dos seus tripulantes, e dos que em terra se despediram limpando em suas faces, as lágrimas da partida.

            Era dia de faculdade, e ao olhar o adiantado da hora despedi-me da minha Avó.
Ao dirigir-me para a paragem de autocarro, as ruas ainda mostravam o estado do temporal da noite passada, com as poças de água que a percorriam em toda aquela avenida que a separava de nossa casa.
Os passeios abrigavam os trajectos dos carros que surgiam e se tornavam em som súbito, e à medida que descia, recordava os teus olhos.
A Carta.
Como escreveria a carta?
A minha Avó tinha-me incentivado a escrever-te, mas não sabia o que dizer.
Dentro de mim, o espaço vazio queria-te compor as mais belas palavras, porém todas insuficientes para declarar a minha admiração. E por outro lado, apesar da minha criatividade, a timidez declinaria o que irias pensar ou como irias reagir.
Recordei as palavras do poeta que diria que as Cartas de Amor são ridículas, mas que é apenas Ridículo quem não as têm. Quem nunca partilhou esse momento em que as palavras nos tocam a alma e nos fazem sonhar.

            Na altura eras uma cantora com algum sucesso na Índia, e que pensava em editar o seu primeiro álbum. Era esse o teu sonho. Por isso poderias pensar que era mais um doidinho que se tinha apaixonado e que resolvera escrever. Talvez nem me responderias. Ou pedisses a alguém para o fazer em teu lugar.
Se não respondesses seria apenas uma carta cujas palavras se perderiam no trilho da vida, mas que imersas ao vento, as suas folhas proclamariam o seu incenso nesse breve história.
Não teria nada a perder com a ausência da tua resposta.
Recordava o que a minha Avó falara em relação aos caminhos da vida, cuja forma inesperada é traço do seu destino.
           
            O autocarro chegou à paragem e as pessoas dirigiram-se a ele em passos lentos. Em alguns minutos se faria o trajecto até ao Campo Grande, e por isso sentei-me num dos bancos junto à saída.
Durante o percurso, retirei um pequeno caderno onde ia escrevendo alguns pensamentos.
Ao olhar a janela, a eternidade preenchia o meu ser. Era dela que surgia o amor da forma pura. Sendo esse que em comunhão com a terra o faz coração do homem. Buscava inspiração nos trajectos da cidade, nas ruas cuja viagem rápida fazia aparecer em focos momentâneos.
Como iniciaria a carta? Pensei.
Se te dissesse que te conhecia da eternidade, como se as nossas almas fossem manifesto de um Eu Superior, destinadas à mais bela história de amor, dirias que era doidinho.
Apesar do teu tom de pele morena relembrar a típica mulher da Índia, e o Hinduísmo ser a principal religião do país, sendo o povo ligado aos seus ancestrais, poderias não acreditar nessa espiritualidade. Por isso teria que te cativar pelas tuas próprias palavras, tal como o som da tua música.
Olhei o céu azul.
Se naquele momento o olhasses tal como eu, reconhecerias o nosso mundo, o azul da nossa alma.
Queria acreditar nessa casualidade. No caminho que se havia unido entre nós, e com a vida.
Dir-te-ia, que é daquelas nuvens que são feitos os sonhos, cuja luz as ilumina em seu interior, como se nos abraçassem para além do espaço, em direcção ao sagrado.
Ansiava por essa luz na minha vida. Queria absorvê-la em todo o meu ser, e que ela se tornasse felicidade.
Por isso estava disposto a tentar apesar da minha timidez.
Em cada dia de vida perdemos sempre alguma coisa que se perde na memória, mas apenas compreendendo a efemeridade do tempo é que estaremos dispostos a viver.
Apenas podias não responder ou a tua resposta ser tão vaga que daí se perdesse o sentido especial.
            Ao longe avistei o Campo Grande. Os carros formavam fila em mais um inicio de semana de trabalho. Desci o autocarro e dirigi-me para a faculdade.

            Durante o dia recordei as palavras da minha Avó, que imersas pelo som da chuva, se confundiam com as memórias da sua vida.
Os seus olhos brilhavam com os meus ao teu sorriso. Tal como os teus que eram candeias que iluminavam em laços dispersos pelo tempo.
Do tempo em que o infinito nos havia reencontrado.
O coração não escolhe. Rende-se ao encanto do talento e das paixões, sem perguntar nem questionar.
Olhei para o caderno, e embora algumas das frases que havia escrito fossem escassas para explicar essa admiração, deixo-as aqui para que as leias.
“ Se o amor arde, é do meu coração que surgem as mais intensas labaredas, que me consomem a alma em busca do teu sorriso.”
A frase era de um romantismo exacerbado.
Queria escrever algo mais simples que captasse o sublime do momento.
“ Somos dois pássaros que regressam à vida para se encontrarem no tempo perdido, para o qual o amor se flui em céu azul. “
Senti o seu sentido demasiado metafórico, e não captaria a essência do que queria transmitir.
“ Nos teus olhos senti a música que existia dentro de ti e da tua voz a tua inspiração. “

            No amor tornamo-nos ridículos.
Somos o testemunho do ridículo e ridicularizamo-nos.
De que vale viver se não estivermos disposto ao ridículo?
E nessa autenticidade do ridículo que encontramos a nossa autenticidade, pois tentamos esconder a nossa fragilidade, para sermos aceites numa aparente normalidade que nos é imposta pela sociedade.

            Palavras… Apenas palavras. Palavras ao vento que já existiam antes de as pronunciarmos.
Antes que eu te escrevesse, elas já eram tuas. Sentis-te como te faziam olhar o mundo com outro brilho, e nesse instante tu eras a própria criação. O infinito da tua essência recordava-te como dentro de ti elas escutavam o teu coração e a ele se dirigiam em sua melodia.

            Ansiava pelo sublime. Ao tentar encontrar algo que te fosse comum, procurei informação sobre a tua música. Ao aceder a uma das canções que havias composto escutei os seguintes versos.


“ Esperei toda a vida
Por ti, Cavaleiro
Que trazes em teu dorso
As palavras quentes.

Nessa manha de chuva
Foi noite de madrugada
O sonho que revivi
Embora acordada.

Sonhei com a noite escura
Com a chuva da manha
Com a escuridão do céu
E tua eterna presença

Vêm Cavaleiro
Recorda-me de ti
Suscita em tua alma
Que viveu sempre por mim

Vem abraçar tua donzela
Que espera teu regresso
São brumas, é nevoeiro
Tu és meu Cavaleiro. “

            Essa letra suscitou a minha admiração pois senti que a vida me transmitisse uma mensagem. Essa coincidência era um oráculo que apelava ao teu encontro.
Talvez a Avô estivesse correcta.
Tudo tivesse o seu sentido mas no momento não o pudéssemos compreender.
Tudo na vida remonta a um tempo que passou, embora o futuro seja algo desconhecido. Perpetuamos o tempo que vive da eternidade, sem tempo.
Tudo têm um sentido e queria acreditar nisso.
Bastava acreditar em mim.